Não podemos voltar atrás

22/08/2017
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Nós, representantes de movimentos sociais e de algumas pastorais da Igreja Católica, junto com a coordenação latino-americana da Associação Ecumênica de Teólogos/as do Terceiro Mundo (ASETT), queremos declarar à opinião pública do Brasil e testemunhar perante todos os seguintes princípios, já afirmados por uma Declaração Ecumênica emitida há mais de um ano por vários organismos cristãos de base na Venezuela. 

 

Primeiro, que acreditamos que na Venezuela exista uma democracia participativa autêntica e genuína, bem comprovada pela ampla afluência às urnas da parte do povo venezuelano, cada vez que é convocado e pela recente eleição da Assembleia Nacional Constituinte, convocada pelo presidente Nicolas Maduro, no uso normal de suas funções, previstas pela Constituição Bolivariana.

 

Segundo, acreditamos que atualmente, na Venezuela, quem não respeita o processo democrático não é o governo, mas a oposição que não se atém aos instrumentos normais de oposição em qualquer democracia: o debate sincero e a busca de negociações. É a oposição que recorre a métodos violentos e cria insegurança e instabilidade social. 

 

Terceiro: “eficiência, eficácia ou nada”, afirmava o presidente Hugo Chávez, antes de nos deixar. Continuamos precisando de um Socialismo produtivo, eficiente e eficaz que gere bem-estar, segurança e progresso integral para todos. Pensamos que é fundamental retomar os elementos de formação da consciência nas comunidades de periferia e do interior e insistir nos princípios e valores que faz do Bolivarianismo um processo revolucionário movido pelo amor social. 

 

Quarto, acreditamos que num processo tão complexo como o que vivemos nesses últimos anos, é compreensível que se tenham cometido alguns erros. Em muitas culturas da humanidade, há um ditado que diz: “Errar é humano. Empenhar-se em corrigi-los é o mais sábio”. É importante reconhecer humildemente os erros, abolir quaisquer sinais de corrupção no funcionamento do serviço público e evitar a impunidade. 

 

E quinto, cremos que é preciso reconhecer que o apoderamento e o estorno de bens de primeira necessidade por parte de comerciantes e de setores da elite contrária ao governo, assim como certa falta de eficiência na produção e distribuição dos alimentos de base, geram grande sofrimento para o povo venezuelano. Este tem de lidar com a escassez imposta pelos comerciantes que sonegam alimentos e bens de primeira necessidade para forçar mudanças políticas e econômicas.

 

Diante dessa realidade, propomos que nos mantenhamos firmes em nosso projeto revolucionário bolivariano e de inspiração espiritual ecumênica. As missões sociais, realizadas pelo governo, são sagradas e não devem ser negociadas.

 

São conquistas do povo que beneficiam especialmente as camadas mais empobrecidas da população. Se há algo a corrigir que claramente se realize essas mudanças, mas se garantam a continuidade e o aprofundamento delas, principalmente nos campos da educação e da saúde.

 

Se faz necessário retomar sempre a noção e a verdade do Poder Popular, criados pelo presidente Chávez como instrumentos de organização das comunidades populares e de democracia participativa. 

 

Apelamos ao governo bolivariano do presidente Nicolas Maduro que aprofunde cada vez mais as políticas de respeito e cuidado com a Mãe Terra e a natureza que nos envolve. Faz parte dessa ecologia integral, proposta pelo Papa Francisco na encíclica sobre o cuidado com a casa comum (Laudatum sii), o diálogo sempre mais direto e profundo com os lavradores e indígenas, protegendo-os dos exploradores e intermediários e garantindo que os produtos de primeira necessidade não cheguem mais caros ao povo. 

 

“Podemos dialogar sem perder a identidade. A nossa identidade é o amor à pátria”, afirmou o Papa Francisco aos movimentos sociais no Paraguai, em 2016. É necessário abrir-se a alianças a partir do diálogo e da busca de convergência sobre princípios e temas de interesses comuns, como a economia e a segurança social. Como afirmava José Marti: “Com todos, pelo bem de todos”.

 

É preciso não voltarmos atrás na determinação firme de “não voltar atrás”. Jesus de Nazaré e todos os grandes líderes espirituais da humanidade doaram a sua vida, sem jamais perder a esperança da vitória.

 

Assim devemos preservar a integração latino-americana e a solidariedade internacional, apesar da conjuntura desfavorável que vivemos em relação à ALBA, ao Mercosur, Petrocaribe e outros organismos de união continental. 

 

Nesse ano em que celebramos o centenário do nascimento do nosso profeta latino-americano, o bispo Oscar Romero, encerramos essa nossa palavra de comunhão e apoio ao governo do presidente Nicolas Maduro e ao povo da Venezuela com as palavras do nosso mártir: “A glória de Deus é a libertação dos oprimidos”.

 

- Marcelo Barros é monge beneditino, assessor de movimentos populares e reside em Pernambuco / Arquivo pessoal

 

Edição: Vinícius Sobreira

 

22 de Agosto de 2017

https://www.brasildefato.com.br/2017/08/22/artigo-or-nao-podemos-voltar-atras/

 

https://www.alainet.org/pt/articulo/187571
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