Pessoas desaparecidas

01/12/2006
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 São freqüentes os casos de desaparecimento de pessoas Brasil afora. As principais vítimas são crianças, idosos e portadores de deficiências. Algumas se perdem e, desmemoriadas, são localizadas tempos depois, graças à divulgação de suas fotos. Outras são seqüestradas para extorsão, adoção criminosa ou assassinato seguido de extração de órgãos destinados ao mercado internacional. E há quem simplesmente decide ir-se da família e sumir no mundo.

 

 Adolescente, tive um colega de escola que desapareceu. Encontrado uma semana depois, havia brigado com os pais e, numa estrada, pediu carona a um caminhoneiro, pretextando ter perdido o ônibus que o conduziria a São Paulo.

 

 Mais curioso é o caso de um empresário carioca que saiu do trabalho num fim de tarde e evaporou-se. Oito anos depois um missionário católico, ao visitar uma aldeia do Xingu, estranhou aquele homem branco entre os indígenas. Era o empresário. Na infância, acompanhara o pai, que trabalhava no Serviço de Proteção dos Índios, em visitas às aldeias. Cresceu convencido de que ali residia a felicidade. Frustrado como pai de família e empresário, rompeu com seu passado adulto. Jamais voltou à cidade e veio a morrer aculturado ao mundo indígena.

 

 Há que ter muita atenção com criança e, sem incutir-lhe medo e inibir-lhe a sociabilidade, adotar uma política preventiva: ensinar o nome dela completo, bem como os dos pais e irmãos, e o telefone e o endereço onde mora; providenciar-lhe a carteira de identidade; orientá-la a jamais aceitar qualquer presente ou objeto de estranhos.

 

 Por parte dos pais, manter bom relacionamento com a vizinhança; conhecer as pessoas que convivem com o filho (as famílias da babá, do porteiro do prédio, da professora da escola etc); acompanhá-lo em eventos, como aniversários, atividades escolares e esportivas; não autorizar que saia à rua sem supervisão de adulto conhecido; não deixá-lo sozinho em casa.

 

 Quase todos esses itens valem para idosos e portadores de deficiências, sobretudo mentais, vulneráveis à amnésia, o que dificulta o reencontro da casa. É aconselhável manter na família fotos do rosto de pessoas em risco potencial de desaparecimento.

 

 Caso ocorra desaparecimento, informar imediatamente à Polícia Civil e comparecer à delegacia de posse dos documentos da vítima; distribuir fotos através de jornais, TV, revistas, lojas, internet, e criar uma comunidade no orkut. A informação e/ou denúncia pode ser feita ao governo federal pelo site: www.desaparecidos.mj.gov.br

 http://www.desaparecidos.mj.gov.br , através do qual se entra em contato com a Rede Nacional de Identificação e Localização de Crianças e Adolescentes Desaparecidos. Em Minas, pelo tel 0800-2828-197 – gratuito e dispensa-se identificação – ou pelo site: www.desaparecidos.mg.gov.br). Mas cuidado com detetives e investigadores particulares, pois entre eles há quem procure explorar o drama da família e, falsos profissionais, extorquir dinheiro.

 

Converse sobre o tema com seus familiares e vizinhos. Observe os novos vizinhos e o modo de se relacionar com crianças. Na rua, fique atento a crianças, idosos e portadores de deficiências; eles podem estar desorientados e, neste caso, ajude-os e leve-os a um posto policial.

 

 Segundo o Ministério da Justiça, de 1º de janeiro de 2000 a 16 de outubro de 2006 foram encontrados 571 desaparecidos e sumiram 447 pessoas. Os estados em que ocorrem mais desaparecimentos são o Pará e o Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.

 

- Frei Betto é escritor, autor de “Treze contos diabólicos e um angélico” (Planeta), entre outros livros.

https://www.alainet.org/pt/articulo/118491
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