A nova ordem mudial
24/10/2004
- Opinión
François Houtart explica as características da nova ordem
mundial; estratégia do Banco Mundial é amenizar a pobreza para
a manutenção do status quo
Frente ao fracasso do neoliberalismo, estabelece-se o neo-
keynesianismo, ou seja, uma política de regulação, que não toca
no sistema capitalista. Este foi o tema analisado por François
Houtart no IV Seminário Internacional Dívida e Lei, que
aconteceu de 18 a 20 de outubro, em Amsterdam, Holanda.
O Keynesianismo foi a doutrina do economista britânico John
Keynes (1883-1946) que propunha dar ao Estado mais iniciativa
para evitar crises, para garantir os pactos sociais. No Neo-
Keynesianismo, tudo contribui para a acumulação, especulação e
concentração de poder econômico. O capital de interesses é mais
importante do que o produtivo. "O que interessa é a especulação
e a concentração de poder econômico; o mundo virou um grande
cassino".
Na perspectiva de transformar tudo em mercadoria, este sistema
esbarra em três fronteiras: a agricultura, os serviços públicos
e a biodiversidade. A teoria neo-keynesiana está preocupada com
a alimentação da população mundial, desde que estes alimentos
sejam produtos regularizados pela OMC. Trata-se de mercantilizar
a terra. Há um plano geral contra a reforma agrária e a favor da
concentração nas mãos dos grandes produtores para que haja
apenas uma agricultura capitalista em que os camponeses sejam
apenas trabalhadores (mal) remunerados e não produzam mais
alimentos para si próprios. A parcela autárquica da população
camponesa, que não responde à divisão internacional do trabalho,
é o problema, segundo esta visão neo-keynesiana. Houtart deu um
exemplo: "Os cultivos de arroz do Sri-Lanka, de acordo com o
Banco Mundial, devem ser extintos porque é mais fácil comprar
arroz em outros países do que produzir lá. Mas a cultura do povo
do Sri-Lanka é comer o arroz que eles próprios produzem, mas
isso não é levado em conta; o importante é que estes camponeses
se mudem para a cidade e sejam mão-de-obra barata para as
multinacionais – ou seja, trata-se de reduzir custos para as
multinacionais e menos direitos para os trabalhadores".
Rompe-se a fronteira do serviço público com as privatizações nas
áreas estratégicas para o bem estar da população, convertendo a
comunicação, eletricidade, transporte, saúde e educação em
mercadorias. As reservas essenciais à vida humana, a água, o
oxigênio e a biodiversidade são indevidamente apropriadas pela
farmacêutica e pela cosmética, transformando a natureza em
produtos químicos, patenteando e acabando com o uso tradicional
de diversos povos. Ao continuar aplicando tais políticas, há um
aumento da desigualdade social e da pobreza.
Para os neo-keynesianos, quando a pobreza afeta um grande número
de pessoas, ela é perigosa para o sistema, porque pode ser a
origem de movimentos e reações. Assim são necessárias as
políticas do Banco Mundial para amenizar a pobreza, com o
prevalecimento da economia capitalista. "O que vemos agora no
plano internacional e nos planos nacionais, e ainda no Fórum de
Davos, são popostas deste tipo, algumas medidas de regulação que
podem aliviar um pouco a situação dos grupos mais vulneráveis,
mas que não tocam no essencial do sistema capitalista", conclui
Houtart.
* Daniela Stefano. Ámsterdam.
https://www.alainet.org/pt/articulo/110753
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