A juventude contra o golpe
- Opinión
As manifestações do dia 18 de março de 2016 contrariam duas recorrentes afirmações no cenário político brasileiro. A primeira delas parte dos setores conservadores e sustentado no censo comum brasileiro de que a esquerda, hoje, restringe-se a um contingente envelhecido de sindicalistas notadamente antiquado e burocratizado. A segunda delas parte da esquerda organizada que, não raras vezes, corrobora um argumento de que a juventude dos anos 2000 é excessivamente consumistas, individualista, despolitizada e alienada.
Vamos brevemente fazer uma digressão dos ultimo grandes acontecimentos políticos do país. A começar pelas “jornadas de junho de 2013”. Apesar das recorrentes tentativas da mídia do golpistas e dos setores da direita em disputar o rumo daqueles acontecimentos, é notável que eram manifestações genuinamente de esquerda, encoradas na prerrogativas de “mais Estado” e de garantia de direitos, além das simbólicas manifestações de denúncia da grande imprensa, externalizadas nas palavras de ordem do “fora globo”, e da certeza de que o atual sistema político decretou sua falência política, econômica e moral;
Além disso, os “rolezinhos” nos shopping center, as denúncias contra os ainda impunes torturados do golpe militar de 64, e a derrota histórica do PSDB em São Paulo com a retirada da proposta de Reorganização escolar demonstram que vamos “a luta com essa juventude que não foge da raia a troco de nada”.
A recente existência – do ponto de vista geracional – desse contingente contribuiu demasiadamente para a negação da naturalização das desigualdades sociais e da sociedade capitalista tal como ele é. Ou seja, há nos jovens um maior potencial de contestação e de organização social, seja nos “bondes”, nos “guetos” seja nas organizações sociais.
É preciso reconhecer, dessa forma, que os jovens também conseguem ler o momento histórico com outra dimensão e com menos vícios políticos. Ou seja, a maleabilidade com que a juventude consegue se organizar – sem muito apego às formas – as torna mais dinâmica. É preciso reconhecer que existe, também, uma certa crise das formas tradicional da “esquerda” brasileira. Sem correr ao risco de desmerecê-las, muito menos ao risco de negá-las, os jovens mostraram que as manifestações podem ser mais alegres, mais musicais e mais coloridas!
Parece que existe um certo saudosismo dos jovens das Diretas Já, do novo sindicalismo, da formação do PT, da luta contra a ditadura, expressas nas frases “naquele tempo os jovens eram combativos”.
Contra isso afirmamos que há uma juventude de esquerda radical brasileira, que ousa cotidianamente! A grande manifestação do dia 18 foi protagonizadas pelos jovens, que saíram às ruas na contramão da história e mostraram seu valor.
Esse dado da pesquisa do perfil social do DataFolha mostra de que lado estão as jovens, e serve para enterrar argumentos como explicitados no primeiro parágrafo do texto.
Para não cair no risco do desprezar aqueles que historicamente lutam por um Brasil justo e democráticos, retomo, para finalizar, uma frase emblemática do grande militante e sociólogo brasileiro Florestan Fernandes, que em um texto publicado na Folha de São Paulo em 1986 já apontada a necessidade de olhar os jovens no seu contexto histórico
“Hoje o jovem retorna aos seus papéis, em um Brasil diferente, e não deve ficar encantado por um passado que não pode ser reconstruído e não foi tão legendário ou heroico como as idealizações sublinham.”
E finaliza apontando o potencial explosivo da juventude brasileira
“O potencial radical de um jovem constitui um agente político valioso. Ele está ‘embalado’ para rejeitar e combater a opressão sistemática e a repressão dissimulada, o que o converte em um ser político inconformista e promissor”.
- Juliane Furno é graduada em ciências sociais pela UFRGS, doutoranda em desenvolvimento econômico na Unicamp e militante do Levante Popular da Juventude.
21/03/2016
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