A maior vítima

16/12/2002
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A ditadura tentou convencer os brasileiros que defender direitos humanos é proteger bandidos. No regime militar, CNBB, OAB e outras instituições defendiam os presos políticos contra a tortura e o arbítrio. Hoje, os brasileiros sabem que os presos políticos não eram bandidos. Eram vítimas de um regime de terror que rasgou a Constituição, depôs autoridades eleitas pelo povo, invadiu lares, prendeu, torturou e assassinou. Leiam "As ilusões armadas", de Elio Gaspari. Muitos escaparam porque foram viver no exílio, como FHC. Outros amargaram o fundo de um cárcere, como Lula. Mas a maior vítima foi a associação dos direitos humanos a bandidos. A ditadura acabou, suas vítimas tomaram em mãos as rédeas da nação, mas infelizmente os direitos humanos ainda não são respeitados em nosso país. Presos sofrem torturas em delegacias; crianças são violentadas; negros, discriminados; índios, humilhados; trabalhadores, escravizados (sobretudo no sul do Pará). Dia 12, FHC concedeu medalhas a Dom Pedro Casaldáliga, bispo de São Félix do Araguaia; Oded Grajew, presidente do Instituto Ethos; e outros. Merecidamente. Melhor, porém, seria poder anunciar que, após 8 anos de governo, o Brasil se orgulha de respeitar os direitos humanos. Quando as escolas introduzirão esta matéria em seus currículos? Talvez se evitasse que jovens de Brasília espancassem um garçom até matá-lo, ou que uma estudante de Direito matasse os pais em São Paulo, ou que certos médicos tratassem os pacientes do SUS com menos respeito que veterinários costumam cuidar de cachorros. Mas enquanto programas de TV ridicularizarem mulheres, negros, homossexuais e nordestinos, vai ser difícil criar, em nosso país, uma cultura de respeito dos direitos humanos. * Frei Betto é autor de "Sinfonia Universal ­ a cosmovisão de Teilhard de Chardin".
https://www.alainet.org/es/node/106765
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