Migrantes: Rumo à Integração Solidária
20/07/2005
- Opinión
Dando continuidade aos encontros que o OCIM – Organismo
Interamericano para o Controle dos Direitos dos Migrantes, organiza a
cada três meses, nos países das Américas e Caribe, realizou-se, em
Santiago do Chile, nos dias 14 a 16 de julho mais um encontro para
tratar da questão das migrações na região. Participaram os
representantes, denominados de “antenas”, dos seguintes países:
Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Equador, Paraguai e Peru.
Além da reunião os membros do OCIM puderam conversar com as
autoridades de cada país, cônsules e embaixadores. Trataram também da
realidade migratória de cada país na – Conferência Internacional de
Migração, Cidadania e Integração Regional - realizada no dia 15, na
antiga sede do Senado do Chile, onde também participaram as
autoridades dos diversos países.
OCIM procura dar visibilidade aos migrantes, influir para que
nos tratados de integração regional se incorpore o tema das migrações,
incluir o tema dos direitos humanos dos migrantes na visão de
cidadania regional, implementar a Carta dos DDHH dos Migrantes e
exigir que se crie um sistema regional de proteção dos direitos dos
migrantes. Outrossim, pressiona para que se crie um grupo de trabalho
sobre a cidadania interamericana, entre outras coisas.
Como representante do Brasil no OCIM, tivemos a oportunidade de
expor sobre os principais problemas que atentam contra os direitos dos
migrantes no Brasil, em três situações: migrantes temporários, os
bolivianos em São Paulo, e o caso dos brasiguaios. Expusemos também as
propostas do Serviço Pastoral dos Migrantes em relação a estas
situações de desrespeito aos direitos dos migrantes.
A realidade constatada
Continuam aumentando as migrações e os deslocamentos forçados
dentro e fora da região, o que provoca situações de extrema
vulnerabilidade aos migrantes, refugiados e desplazados, tendo como
causas o empobrecimento, a exclusão e os conflitos armados. Os dados
que seguem, fornecidos pelos representantes de cada país, revelam a
magnitude do fenômeno das migrações na região.
O Paraguai, com uma população de 5 milhões de habitantes, tem 2
milhões de pessoas fora do país, ou seja, 40%; O Equador que tem 11
milhões de habitantes e 3 milhões de emigrantes, ou seja, 28% de sua
população; Bolívia tem 2,5 milhões de emigrantes, 25% de sua
população; Peru tem 13% de sua população no exterior. O Brasil
apresenta uma nova tendência. De país de imigração, tornou-se país de
emigração com 2 milhões de emigrantes.
Na maioria dos países a migração é vista e tratada como questão
de segurança nacional, sendo regida por órgãos ligados à polícia, na
maioria dos casos numa perspectiva criminalizadora. Por outro lado, há
países que consideram os emigrantes apenas no aspecto econômico, ou
seja, o volumoso montante de recursos que enviam aos países de origem.
Tal percepção da migração desconhece e ignora os deveres dos
estados no que diz respeito aos direitos dos imigrantes e de suas
famílias, os mesmos que já foram reconhecidos por normas
internacionais, e que os estados voluntariamente se comprometeram
honrar e respeitar. Os participantes, após os debates concluíram que,
enquanto não mudar o modelo de desenvolvimento que leva à violência
estrutural, a exclusão social e à miséria imensas camadas da
população, as migrações só tenderão a aumentar.
Propostas
- A migração deve ser vista como algo dinâmico e integral na
ótica dos direitos humanos e não na perspectiva da segurança nacional
e como caso de polícia;
- Promulgar políticas públicas que gerem trabalho no local de
origem de modo que a migração seja uma decisão espontânea e não
forçada, como é na maioria dos casos;
- Criação de legislações, nos países, que promovam a cidadania
inter-americana; onde as pessoas tenham direito de ir e vir, trabalhar
e ter direitos civis, econômicos, sociais, políticos e culturais,
respeitados e que garantam:
*no aspecto social: assistência à saúde, previdenciária,
direito à residência e à educação;
*no aspecto político: direito ao voto e acesso à justiça;
* na área cultural: considerar os migrantes como seu capital
social e cultural e reconhecimento dos títulos;
* no aspecto econômico: trabalhar e poder enviar recursos para
os familiares no local de origem e considerá-los como pessoas que
contribuem também economicamente com os países de destino;
- Realização de tratados que permitam a regularização dos
migrantes em qualquer país da região;
- Ratificar a convenção Internacional de Proteção dos Direitos
dos Trabalhadores e de suas famílias, promulgada pela ONU em 1990, por
parte dos países que ainda não assinaram;
- Implementar o tratado de residência nos países do Mercosul e
estendê-lo aos demais países da América Latina.
- Reconhecer o potencial transformador dos migrantes, tanto em
relação ao país de destino, de origem e a própria pessoa do migrante.
Nos damos conta que, nesta era da globalização só o capital, os
bens e serviços têm garantias para circular livremente. As autoridades
da economia mundial ignoram o direito da cidadania universal, em
primeiro lugar.
Para o mês de setembro está sendo organizado outro encontro do
OCIM, a se realizar no Brasil, juntamente com representantes do Chile,
Bolívia, Paraguai e Brasil.
- Luiz Bassegio, Secretário Executivo do SPM - CNBB
https://www.alainet.org/es/node/112474
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